...espasmos de lucidez podem gerar avalanches de idéias, ou não.

domingo, maio 23, 2010

Gabriel e o Horizonte.

Estava a esmo, bebericando algum refresco barato enquanto caminhava; fitava o horizonte. Ultimamente aproveitar feriados se tornara tão enfadonho quanto um dia agitado no escritório. 'O que há alem daquela tênue linha onde o céu e o mar se beijam?'
Tudo que Gabriel queria era incorporar seu famoso antecessor mitótico. Não necessariamente asas com penas e harpa, mas pilotar um bi-motor e tocar guitarra já era um bom plano... Até comprou umas apostilas de aviação civil e fez umas aulas de violão, mas acabou fazendo uma faculdade qualquer e trabalhando em um escritório de um amigo do pai para um dia, na verdade, adicionar mais artigos indefinidos ao então ignóbil dia a dia... Estudando aviação ou tabelando preços digitalmente, Gabriel era tranquilo e sempre ria da própria condição; tornando sua presença sempre agradável. E 'a coisa toda' permaneceu nessa marcha: manter as atividades presentes para a manutenção das futuras; em um cotidiano quase perfeitamente hermético. 'Por que você não vem aqui ver?'; sim, as vezes o horizonte respondia mesmo! E era tão engraçado!
Aí ele ia lá ver; depois daquele horizonte havia outro, que era igualmente tentador de espiar... Quando sentia que sua essência era o fluir, que o alimento do espírito eram as experiências novas; o despertador tocava e o mundo ia embora... E ria de como poderia estar longe (e de como riria se estivesse lá).
Um dia Gabriel saiu às três da tarde de terça, com a tradicional tranquilidade, e nunca mais voltou. Não houve mala, aviso ou qualquer gala que não cheirasse a improviso...
Sete meses e quinhentos kilometros depois, encontram-no. Estava magro, sozinho, com alguns apetrechos curiosos e morto. Era tamanho o sossego de seu leito terminal que foi de fato nesta ordem a ciência dos fatos. Um belíssimo bosque em frente ao horizonte (uma praia). 'Provavelmente hipotermia, ele não tinha nem um casaco consigo.' disseram....
Um fim meio triste, mas não se engane! Na certa Gabriel estava rindo por não notar que naquele próximo horizonte ele podia simplesmente pegar uma gripe.

quarta-feira, maio 19, 2010

Tribuzana.

Em minha volta, era o caos; vento, água, batidas, barulho... E todas aquelas criaturas indefesas a correr; buscando abrigo, segurança.
Não podia mais ser apenas massa gasosa movendo-se rapidamente pela violenta diferença de pressão, era o próprio Odim (São Pedro?) correndo invisível pelas ruas a vandalizar os mortais.
Com a confusa circulação dos errantes transeuntes pensei nas baratas que fogem para todo lado quando surpreendidas no cômodo escuro e, mais longe, nos ínfimos mamíferos amendrontados em tocas úmidas escondendo-se de répteis titãs...
E, assim, iluminei-me.
Ter consciência da gigante quantidade de detalhes e coincidências que permitem a débil possibilidade de vida não desprove a existência de sentido; exatamente o oposto!
Torna tudo o que julgo ainda mais belo, mais saboroso, mais especial; não apenas pela improbabilidade de acontecer da mesma forma novamente, mas também pela particular posição espaço-temporal (posto a vastidão das dimensões) que permite a simultâneidade com esses espetaculares eventos (tempestades, ondas, raciocínios, personalidades, objetos, vídeos engraçados no youtube).
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E é exatamente esse julgamento que me difere de um religioso no sentido tradicional.

terça-feira, maio 04, 2010

Não sei.

'...não sei, se estou certo ou se estou errado;
mas faço tudo o que eu quero e digo tudo o que eu faço...'
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Podem, condições muito distintas, gerar resultados finais parecidos...
(fiquei na dúvida de afirmar ou perguntar a frase anterior, por isso as reticências)
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Cansado de toda a hipocrisia, da falta de sentido e do papel de mais uma engrenagem que contribui com a gigantesca máquina social; decide sair. Simplesmente sair. Não se trata de provar algo (a alguém), mas de fazer algo por si. A renúncia dos vícios, das futilidades, das mentiras cotidianas. Viver de e para si. O destino é o caminho por si só; sentir o belo e o maravilhoso a dois mil kilometros e na próxima esquina...
Poderia ser esta a sequência lógica dos pensamentos que venho expondo aqui; mas não. Trata-se de alguém tão profundo quanto corajoso, no sentido mais puro e real desta última palavra: colocar o coração em ação. Falo de Christopher Johnson McCandless. Comparar meus parcos pensamentos com suas atitudes chega ao ofensivo.
Não continuo falando dele ou de sua história por simplesmente não me sentir a altura ou suficiente maduro para compor um pensamento sólido e fundado; depois de digeridas as idéias, espero conseguir fazê-lo. Por enquanto fica apenas a sugestão do filme e/ou livro Into de Wild (traduzido como Na Natureza Selvagem).
Resumo, momentaneamente, apenas minha pitada de ciúme (saudável) e satisfação de compartilhar, pelo menos em uma humilde parte, linhas de raciocínio com um antecedente tão particular quanto ao de Alexander Supertramp (como se auto-denominou na estrada).
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Termino com o início: a música do TNT. Certo ou errado? Irresponsabilidade ou consciência elevada? Irrelevante, indiscutível; apenas espectadores de lados opostos do mesmo estádio.
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yaz