Nunca vou esquecer da segunda aula de Desenho Técnico da vida... Calouro, cidade nova, 18 anos... Tudo para ter a mente fervilhando, principalmente sobre possibilidades. Não se espera grandes epifanias em uma aula de desenho, mas 'a mente trabalha melhor quando está aberta'¹.
Chega o professor da mencionada matéria cuspindo profundas afirmações: 'Estou aqui para falar sobre algo que todos nós, mais cedo ou mais tarde, somos obrigados a seguir e fazer parte: a padronização'. Honestamente, fiquei até com certo frio na barriga; por mais que fosse o único professor que aparentava gostar do que faz na universidade, não esperava reflexões sobre a ordem das coisas em um fim de tarde de terça-feira.
É, cinco minutos depois ele explicava sobre etiquetas técnicas, dobragem de folhas A2 e A3, hachuras, esquadros e lapiseiras... Algo um pouco mais previsível. Mas aquele assunto passou a fazer parte do meu repertório de questões. Martelando, martelando...
Padrão de vida, esclolhas padrão...
Padrão... Honestamente? O que vem à minha mente é uma toalha de mesa infinita com a mesma estampa repetindo indefinidamente...
Tudo converge para uma massiva pradonização. Basta olhar em volta: moda, empregos, religiões...
Nossas decisões pessoais acabam em pequenas variações de uma mesma estampa; tudo já previsto em um desvio padrão.
Uniformizar para destruir. A intrínseca individualidade morre ao seguir sonhos e metas implantadas pela poderosa mídia em nossa tão facilmente impressionável mente... O paralelo com a utopia de Aldous Huxley (O admirável mundo novo) torna-se impossível.
Tornar tudo que naturalmente é heterogêneo e cheio de particularidades no nome já conhecido: a massa.
Ao analisar uma tribo da oceania (exemplo) enxerga-se apenas suas falhas perante a incrivelmente bem sucedida civilização que estamos; totalmente cegos a suas singelas e poderosas riquezas.
Falta de significado na vida, medo do fim trágico e da solidão, insegurança junto aos semelhantes, sensação de 'o que há de errado comigo?'... Consequências inerentes a fazer parte de um sistema linear e padronizado para lidar com 6 bilhões de pessoas. Mas claro, o real responsável é a 'natureza humana' egoísta e ruim; e não um sistema focado no exponencial crescimento para... Para o que mesmo?
Sou um grande hipócrita, óbvio. A ciência de tudo isso não é/foi suficiente para nadar fora do mesmo oceano... Mas por seguir diferente da poderosa corrente marítima já dou-me por momentâneamente satisfeito; que arquipélagos inexplorados posso encontrar a frente?
¹Frase atribuída a A. Einstein
Sugestões: Meu Ismael (Daniel Quinn), Metamorfose (Kafka)