...espasmos de lucidez podem gerar avalanches de idéias, ou não.

domingo, janeiro 09, 2011

Onde e quando gostaria de estar.

O relógio já marcava seis horas da tarde quando comecei a me mobilizar para sair... Pedalei sem pressa até a praia com a tradicional, e começando a ficar velha, prancha verde-azul debaixo do braço no contrafluxo dos turistas com suas cadeiras, boias e bronzeados vermelhos. A session de manhã tinha sido demais, só sendo interrompida quando o sol e a concentração de gente se tornaram irritantes; assim deixando aquele gostinho de quero mais para o entardecer.
A correnteza não era forte, mas era constante. Depois de umas ondas (maravilhosamente fluídas e ocas, aliás), deixei a aquela ir levando pelo contorno da praia; afinal em toda a costa estavam quebrando aquelas ondas cinematográficas, não havia necessidade de ficar no mesmo lugar. Estava totalmente alheio aos pensamentos inúteis de planejamento e anseio tradicionais de início de ano; independente das vaidades quotidianas, era aquilo ali que realmente sempre importou: ser.
Nem melhorar de ganhos, de prestígio ou status; mas melhorar o que sou. Esse pensamento ocorreu me segundos antes de descer uma direita simplesmente incrível; como sou goofy footer (pé esquerdo atrás), segui de costas para a onda quase completamente engolido naquele gracioso tubo azul-esverdeado... Quando dei por mim, tive consciência da grandiosidade daquele momento e, de leve, estendi a mão direita acariciando a parede da onda olhando fixamente para aquela linha que parecia infinita e parelela à praia. Percebi que logo ela fecharia, assim coloquei o pé mais a frente para uma leve acelerada, fiquei totalmente de pé e conduzi para sair; e quando o fiz, levei as mãos ao rosto e fechei os olhos abrindo um sincero sorriso totalmente maravilhado com o que tinha acabado de acontecer. Em que estaria pensando antes daquela onda nem lembrava mais, acho que se quer existia algo antes daquela onda...
(..)
Quase totalmente escuro; olhava para o fundo e mal distinguia quando vinha uma onda (tanto que duas quase quebraram em cima de mim). Em contrapartida, olhando em direção à praia, uma pontinha de sol atrás dos morros tornava a água até a areia um caminho com milhões de fagulhas cor de fogo... Tinha de pegar mais uma ondinha que seja para tornar perfeito aquela paisagem, aquele momento, aquela coisa. Coloquei toda minha atenção na escuridão à frente, e aguardei. Até que percebi uma crista e remei com vontade em direção à escuridão me posicionando de acordo com aquela vaga (que escondia uma onda razoavelmente maior que a média do dia)... Apoteose. A única palavra, embora rebuscada, que consigo colocar. Que esquerda memorável...
Voltei caminhando em meio à escuridão rindo e cantando sozinho... Percebi que a correnteza tinha me arrastado alguns kilômetros (que percorri no que me pareceu cinco minutos) e que se quer conhecia aquele lado da praia. Olhei para o céu e, alegre, lembrei de algo que escrevi já a um bom tempo: "..eu que andava tão distraído; interpretei a lua crescente como um caloroso sorriso dos céus.."
Eu que sempre me reconheci pela vontade de ir embora e pela nostalgia, aproveitei tranquilo a caminhada reconhecendo que estava exatamente onde e quando gostaria de estar.

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